POSTED BY SEGURANÇA E CIÊNCIAS FORENSES
O Diário de Notícias publicou, hoje, um trabalho de investigação, muito interessante, sobre os possíveis caminhos a percorrer pela segurança interna em Portugal. De acordo com o mesmo, o Partido Social Democrata (PSD), defenderá um sistema dual puro, assente:
- Na fusão da Polícia Judiciária (PJ), Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e Polícia de Segurança Pública (PSP) num único corpo de polícia, uma força civil – a Polícia Nacional;
- Na continuação da Guarda Nacional Republicana (GNR) como força de segurança de natureza militar, e complemento da defesa militar de República.
Na génese desta opção estará o facto de existirem forças e serviços de segurança em excesso, com graves problemas ao nível da cooperação e da articulação, devido a estarem dispersos por vários ministérios.
Daqui resultaria:
- A diminuição dos custos em cargos de chefia e serviços de apoio;
- A desnecessidade de ingresso de novos elementos;
- A transferência das atribuições do Grupo de Operações Especiais (GOE) da PSP e da Polícia Marítima (PM) para a GNR;
- A extinção da Autoridade de Segurança Económica e Alimentar (ASAE) e da Polícia Judiciária Militar (PJM), diluindo-se as suas atribuições entre a PN e GNR.
No capítulo das atribuições:
- A GNR ficaria, em termos de atribuições específicas, com:
- A proteção e defesa de instalações e infraestruturas;
- A proteção da natureza e investigação de crimes ambientais;
- A fiscalização e segurança rodoviária nos principais eixos rodoviários;
- O licenciamento de armas e de explosivos;
- O ponto de contacto sobre a criminalidade automóvel.
- A PN trataria das seguintes vertentes:
- Licenciamento e controlo da segurança privada;
- Segurança pessoal a altas entidades;
- Policiamento e vigilância das zonas públicas dos aeroportos e dos passageiros;
- Ponto de contacto para a informação sobre a violência no desporto.
- Subsistindo atribuições comuns, tais como:
- A prevenção e investigação criminal (ao nível das atuais competências que lhe são acometidas pela Lei de Organização da Investigação Criminal – LOIC). Embora a dado passo do trabalho se queira passar a mensagem que a investigação criminal seria um exclusivo da PN, à semelhança do que acontece atualmente em França francês. Nesta matéria, é conveniente esclarecer que em França, tanto a PN como a Gendarmerie Nationale dispõem de competências no domínio da Polícia Judiciária, em função da malha territorial que ocupam.
- A fiscalização rodoviária.
Por seu turno, o CDS, parceiro de coligação no atual Governo, defenderá:
- A manutenção da PJ, na esfera de ação do Ministério da Justiça;
- As forças de segurança na alçada do Ministério da Administração Interna;
- Um reforço da cooperação, da partilha de informação e do papel do secretário-geral de Segurança Interna.
Ao que acresce:
- A posição da Ministra da Justiça que em Março recusou a ideia de uma polícia única, enquanto o Ministro da Administração Interna se inclina para um novo enquadramento nesta matéria;
- As dificuldades de integração dos recursos humanos, provenientes das organizações extintas, levando, inevitavelmente a que um universo de elementos ficasse a desempenhar as mesmas tarefas mas com salários diferentes, o que seria um fator que potenciaria conflitos internos.
Ainda neste âmbito, Figueiredo Lopes, numa entrevista recente ao jornal i, colocou o acento tónico na cooperação entre as forças e serviços de segurança e chamou a atenção para as denominadas zonas de sobreposição, sendo a investigação criminal aquela que mais salta à vista. Como desta sobreposição podem resultar conflitos, devem, na sua opinião, existir mecanismos que os permitam solucionar. Propugna ainda o recurso ao outsourcing e a execução de determinadas tarefas administrativas em unidades centrais.
A isto vem-se juntar um conjunto de questões que urge resolver no seio das instituições visadas, nomeadamente:
- As leis orgânicas das duas forças de segurança (GNR e PSP);
- A partilha de informação criminal;
- O papel do secretário-geral de Segurança Interna;
- As promoções;
- Os concursos para progressão na carreira;
- O enquadramento nas novas tabelas salariais.
Daí que ainda decorrerá algum tempo até que a poeira que foi levantada nesta matéria no período pré-eleitoral e depois reforçada aquando da visita do Primeiro-Ministro à Escola da Guarda em Queluz, assente em definitivo. (ver o post Estratégia de Segurança Nacional)
Manuel Ferreira dos Santos
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