Os homens precisam de mimo
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Apercebi-me de que o caso estava a ficar particularmente grave no dia em que olhei para a cadeirinha onde a Rita estava sentada e vi os restos abandonados do seu cordão umbilical. A Ritinha não estava lá muito queixosa e parecia despreocupada com o desaparecimento da sua excrescência, mas eu tratei de gritar por ela e fui a correr para o pé da Teresa: "O cordão umbilical já saltou! Ela só tem quatro dias! Algum dos putos deve ter-lhe arrancado aquilo! Eu não vi!" O bom de ter em casa uma mulher que já entubou pessoas e fez reanimações é que a queda de um cordão umbilical não a impressiona por aí além. Uma compressa, duas pingas de Betadine e já está.
Parece que nunca ninguém morreu por lhe cair o cordão umbilical, mas em todos os meus outros filhos a coisa demorou para aí dez dias a cair, obrigando-nos àquele ritual médico-higiénico--nojento-peganhento de o limpar de cada vez que se mudava uma fralda e se dava um banho. Por isso, o despenhamento supersónico do cordão da Rita fez-me colocar de imediato os óculos escuros e o fato preto de agente dos serviços secretos ao serviço do presidente, e impor um cordão de segurança eficaz em torno da miúda.
Mas claro: os meus filhos têm mais talento para as infiltrações do que os terroristas da série ‘24’, e de vez em quando lá está o berço da Rita rodeado de dois fundamentalistas do abraço tentando abarbatar a pobre da miúda. Eu já tentei instituir cá em casa a regra de que ninguém – mas mesmo ninguém – toca na Rita quando ela está a dormir ou a mamar. Mas está a ser dificílimo fazê-la cumprir, até porque a Rita está 90% do tempo a dormir ou a mamar. A fama, já se sabe, é uma enorme chatice. E a Rita é a nova superstar cá de casa.
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