terça-feira, outubro 02, 2012

Pai-polícia

CM


Os homens precisam de mimo
“O meu novo mantra caseiro é: ‘Larga a Rita!’ São essas as três palavras que repito mais vezes ao dia”Nos últimos tempos, tenho sido pai nas horas vagas e polícia a tempo inteiro. Digamos que fui destacado para liderar o corpo de segurança da menina Rita Mendonça Tavares, tendo em conta as ameaças à integridade física que pululam no seu agregado familiar. A sua irmã mais velha continua a ser uma impecável mini-mãe, mas os dois irmãos mais novos são de tal forma efusivos nas manifestações de amor fraternal que a pobre da Rita fica literalmente esmagada debaixo de tantos beijos e abraços. O meu novo mantra caseiro é: "Larga a Rita!" São essas as três palavras que repito mais vezes ao dia, acompanhadas de perto por vários "fala baixo!" ditos aos berros.
Apercebi-me de que o caso estava a ficar particularmente grave no dia em que olhei para a cadeirinha onde a Rita estava sentada e vi os restos abandonados do seu cordão umbilical. A Ritinha não estava lá muito queixosa e parecia despreocupada com o desaparecimento da sua excrescência, mas eu tratei de gritar por ela e fui a correr para o pé da Teresa: "O cordão umbilical já saltou! Ela só tem quatro dias! Algum dos putos deve ter-lhe arrancado aquilo! Eu não vi!" O bom de ter em casa uma mulher que já entubou pessoas e fez reanimações é que a queda de um cordão umbilical não a impressiona por aí além. Uma compressa, duas pingas de Betadine e já está.
Parece que nunca ninguém morreu por lhe cair o cordão umbilical, mas em todos os meus outros filhos a coisa demorou para aí dez dias a cair, obrigando-nos àquele ritual médico-higiénico--nojento-peganhento de o limpar de cada vez que se mudava uma fralda e se dava um banho. Por isso, o despenhamento supersónico do cordão da Rita fez-me colocar de imediato os óculos escuros e o fato preto de agente dos serviços secretos ao serviço do presidente, e impor um cordão de segurança eficaz em torno da miúda.
Mas claro: os meus filhos têm mais talento para as infiltrações do que os terroristas da série ‘24’, e de vez em quando lá está o berço da Rita rodeado de dois fundamentalistas do abraço tentando abarbatar a pobre da miúda. Eu já tentei instituir cá em casa a regra de que ninguém – mas mesmo ninguém – toca na Rita quando ela está a dormir ou a mamar. Mas está a ser dificílimo fazê-la cumprir, até porque a Rita está 90% do tempo a dormir ou a mamar. A fama, já se sabe, é uma enorme chatice. E a Rita é a nova superstar cá de casa.

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