quarta-feira, novembro 24, 2010

NOTICIA:"DEVIDO A ACIDENTE NA MINA, UM GRUPO DE 33 MINEIROS PORTUGUESES ESTÁ PRESO, A 700 METROS DE PROFUNDIDADE, EM PLENA MINA DE ALJUSTREL."

Pièce de Résistence


Todos os média, sem excepção, correm imediatamente ao local, e por lá vão ficando, fazendo registos, fornecendo directos, dando opiniões e comentários especializados.

Toda a população de Aljustrel sai para a rua e vai para a colina de entrada da mina para ver o que se passa. Todos os edifícios públicos fecham.
Vêm autocarros com pessoas de Beja, de Cuba, do Alvito, de Serpa, de Ferreira do Alentejo, de Castro Verde, do Cercal, de Santa Margarida do Sado, de Ervidel, de Canhestros, e Montes Velhos. Todos querem ajudar, principalmente, ver e comentar. Até os jovens que normalmente frequentam a praia de Messejana, ali a 7 kms, seguem para o local com as indispensáveis garrafas mini de cerveja.

Monta-se um arraial, dito, acampamento de recepção de resgate, com roulotes e barracas de frango, farturas, pevides, pregos e coratos que, para não destoar do ambiente à volta, abrange o habitual acampamento dos “nelos”.

A Protecção Civil, em conjugação com o Governo da República e a respectiva Assembleia da dita, toma medidas. Assim:

0) A Protecção Civil declara o local como zona laranja, não vá o peso de todo o pessoal fazer demasiada pressão no sub-solo esburacado, e criar abatimentos de terreno que favoreçam mais situações de encurralamento, a meia distância do desastre e do que existe à superfície, preparado pelos maiorais dos latifúndios e Cooperativas Agrícolas, para as manadas e rebanhos;

1) Cria-se uma comissão para iniciar as tarefas de resgate, integrada por 20 membros do PS e 19 da oposição. Cada membro contará por sua vez com 5 assessores, dois secretários e um motorista. As tarefas demoram porque não se consegue quórum para reunir e logo não há acordo para designar o Presidente e os vogais da Comissão;

2) O Primeiro-Ministro inteira-se desde logo da situação, e fala ao País, na RTP, afirmando que o acidente foi provocado pela crise internacional e pelo nervosismo dos mercados. Ao mesmo tempo, pergunta se não teriam encontrado no fundo da mina o seu certificado de habilitações como Engº Civil, já que ninguém o conseguiu ver até hoje...;

3) Uma Informação prestada pelo Ministro Jorge Lacão assegura que a profundidade não é tanta, trata-se da imaginação da oposição para criticar o governo, uma vez que pelos cálculos governamentais são no máximo 200m;

4) Não há fundos para as tarefas de resgate pelo que será criada uma taxa específica para esta operação. Suspeita-se que a taxa seja aplicável nos próximos quinze anos;

5) Para além desta taxa, aplica-se um fundo patriótico para o resgate, proveniente do Fundo de Pensões das Companhias de Seguros. Para a boa gestão dos fundos, e como o túnel é uma Obra Pública em terreno desértico, é nomeado Mário Lino, em representação do Ministério dos Transportes;

6) OS EUA emprestam a grua de resgate, que desembarca em Vigo, devido às suas dimensões, mas esta não chega a entrar em Portugal porque, na fronteira, o transportador da grua não possuía o leitor de VIA VERDE para a SCUT, além de que, os sucessivos pórticos da leitura da VIA VERDE eram demasiados baixos para a lança da grua, e a via estava com barreiras de utentes em protesto pelo pagamento de portagens;

7) Estabelecido o novo itinerário de transporte da grua, via Galiza e Extremadura Espanhola, o Corpo de Intervenção da PSP de Elvas consegue, ao fim de 120 dias, a autorização para a importação da grua mediante o pagamento prévio de umas caixas de robalo ao Dr. Armando Vara, nomeado pelo Governo como Presidente da Fundação para o Auxílio aos Mineiros;

8) A grua não pode chegar à mina porque, o condutor da mesma pertence ao sindicato dos operadores portuários e a grua, tendo 4 rodas, deve ser conduzida por um motorista de pesados e sob a supervisão dos inspectores do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT). No entanto, como este Instituto está em reestruturação há 3 anos, não pode nomear os inspectores pois ainda não fazem parte do seu quadro;

9) Entretanto, o Prós e Contras da RTP dá instruções para trazerem um mineiro qualquer para o programa, mas a TVI oferece mais para o ter na Casa dos Segredos. Em consequência, gera-se um grande problema entre a Prisa, o Governo e a PT;

10) Consegue-se fazer chegar uma mini câmara de TV ao fundo da mina mas não se vêm os mineiros. A Câmara só transmite novelas, Manuel Luís Goucha e futebol;

11) A grua consegue chegar ao fim de mais dois meses à mina porque o IMTT também teve de solicitar vários pareceres externos para definir o procedimento de atribuição da matrícula para a grua poder circular. A GNR-BT tinha-a apreendido por circular sem a documentação necessária, mas entretanto o Governo interpôs uma providência cautelar para libertar a grua em tempo útil;

12) Jerónimo de Sousa anuncia que os mineiros pertencem ao PCP e por isso o governo está a protelar o seu salvamento para não participarem nas eleições para a Presidência da República;

13) O Bloco de Esquerda repudia a grua por ser de fabrico americano, não se podendo tolerar a sua utilização enquanto continuar o massacre americano em Bagdad e Kabul;

14) Finalmente, chega a Grua e começa a fazer descer a cápsula, mas o cabo parte-se. O DIAP investiga irregularidades na compra do material, mas não consegue ouvir os responsáveis. O Tribunal de Contas descobre que se comprou o cabo de pior qualidade mas que se pagou o preço dum modelo revestido a ouro. O dossier chega ao PGR que ordena o urgente arquivamento de todo o processo. O Conselho de Magistratura pede a revisão do arquivamento para o Supremo Tribunal, solicitando a destituição do Ministro da Justiça;

15) Chega uma ordem para que se detenha o resgate, até que cheguem ao local os gorros e casacos que os mineiros terão de vestir antes de chegar à superfície. Têm escrita a legenda: "Viva José Sócrates!".

16) Finalmente, ao fim de dois anos e meio, resgata-se o primeiro mineiro.



Surpresa mundial: era o único que ia trabalhar, os restantes 32 eram beneficiários do RSI e tinham ido à mina para justificar o seu recebimento.

Para maior espanto de todos, o mineiro resgatado lê o jornal com as notícias sobre o OE e, no final, pede que o devolvam aos 700 metros de profundidade.

Afirma que a vida lá em baixo é bastante mais tranquila, e não tem de pagar IRS. O fiscal das Finanças, se quiser, que vá lá abaixo.

Um comentário:

  1. Espectacular!...
    Há pessoal com muita imaginação, criatividade e humor, BRAVO, BRAVO...
    A próxima tem de ser sobre os blindados :D

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