sábado, novembro 27, 2010

Quem nos salva da salvação nacional?


Santana Lopes, Paulo Portas, Alberto João Jardim, Ribeiro e Castro, Paulo Rangel, Luís Amado, Pacheco Pereira, Otelo Saraiva de Carvalho, etc... - tudo gente que já fez boca-a-boca ao País - exigem um Governo de Salvação Nacional. E você?

Eu estava convencido que todos os governos eram , à partida, governos de salvação nacional, mesmo que incluíssem Paulo Portas como ministro dos Negócios Estrangeiros.

Ninguém chega a casa e diz aos filhos, com orgulho: "vou ser ministro da Deseducação de um Governo de Perdição Nacional. Ou, ministro dos Enfezados Desarmados num Governo de Rebaldaria Nacional". A maior parte dos políticos, que aceita um cargo no Governo, acredita que vai contribuir para a salvação nacional. O grande problema é que, quando as pessoas são confrontadas com um vislumbre do futuro do País, e do que é necessário fazer para o salvar, não se sentem capazes de tamanha tarefa. A sua ambição não é suficiente e acabam, apenas, por tentar salvar o seu futuro e o dos seus filhos.

Um Governo de Salvação Nacional é, normalmente, constituído por partes que, isoladas, são responsáveis pelo problema. E parte do pressuposto de que a soma dessas partes é grande parte da solução para o problema criado pelas partes. Simplifiquemos - é como juntar o vírus do sarampo com o vírus da papeira e acreditar que, assim, vamos conseguir obter a cura para quase todos os males da infância.

Um político só tem estatuto de salvador nacional depois de ter ajudado a afundar alguma coisa. Um salvador nacional só se sente salvador nacional quando olha para os outros salvadores - "tu também és salvador nacional?!!" Um Governo de Salvação Nacional não é remédio para os nossos males. Em época de liquidação total, um Governo de Salvação Nacional tem tendência a resvalar para governo de salvação pessoal.

Apetece perguntar: quem é que nos salva dos salvadores nacionais? Existirá pior salvamento que a salvação nacional? Se isso o descansa, caro leitor, existe, sim senhor.

Pior que os salvadores nacionais, são aqueles que andam a mendigar a solução "remodelação governamental". É preciso ser-se muito sacana! Uma proposta destas demonstra ausência de sentimentos e de capacidade para nos colocarmos no lugar dos outros. Não tenho dúvidas de que a maioria dos ministros merecem ser substituídos, mas também tenho a absoluta certeza que ninguém merece a punição de os substituir.

Exigir a remodelação é exigir que venham uns desgraçados ocupar o lugar. É passar da Salvação Nacional para o Martírio Pessoal. Só quem acredita que após falecer vai ficar sentado à direita do Pai está disposto ao sacrifício de, nos dias de hoje, largar a empresa onde trabalha para aceitar o desprestigiante, cansativo, mal pago e fugaz emprego de ministro das Finanças de Portugal. Comigo, não contam. Já desliguei o telemóvel. Liguem para o 112.

Meia dúzia de temas menores
1 Presidente da UE diz que foi mal interpretado quando falou da sobrevivência da Zona Euro - já a Angela Merkel se queixou do mesmo. Está visto que a culpa da crise, afinal, não é dos banqueiros. A culpa é dos intérpretes que trabalham em Bruxelas e Estrasburgo. São estas traduções mal feitas que assustam o mercado - acontece-me o mesmo com os nomes dos filmes.
2 A saída do director do SIED não afectou a segurança da Cimeira, disse o Governo - ele é vingativo mas não levou a pistola....

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