Quando SSS (Sua Santidade Sócrates) apareceu terça-feira na sua residência oficial a congratular-se com o fim da investigação ao caso Freeport, afirmou – e cito – que assim se demonstrava não haver "razão para acusar quem quer que fosse de financiamento ilegal a partidos, corrupção ou tráfico de influência".
Depois virou as costas e foi-se embora, porque não há nada como uma boa proclamação de inocência sem direito a perguntas – actividade que o primeiro-ministro muito aprecia, seja em declarações à imprensa, seja em entrevistas à RTP.
Infelizmente, SSS mais uma vez confunde – outra das suas actividades favoritas – o não haver "razão para" com o não haver "provas de". Isto já para não falar da diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal, uma subtileza demasiado subtil para a sua cabecinha. O caso Freeport fede, fedeu e continuará a feder por todos os lados, e lá por a polícia e o Ministério Público não terem sido capazes de descobrir os responsáveis pelo mau cheiro, não significa que ele não exista. Aparentemente há provas de que Manuel Pedro e Charles Smith pediram muito dinheiro ao Freeport e que o Freeport lhes entregou esse dinheiro – e o elo quebra-se aí. Mas tenho cá para mim que os dois senhores não hão-de ter agarrado nas notas para fazer barquinhos e lançar ao Tejo. Desconfio de que as entregaram a alguém – até porque o Freeport acabou miraculosamente aprovado nas vésperas de o PS sair do governo.
Ora, a esta pergunta José Sócrates nunca respondeu: porque é que o empreendimento foi aprovado nas vésperas de o PS sair do governo? O nosso SSS fez declarações, deu um par de entrevistas, mas esta singelíssima questão continua envolta no mais profundo mistério. E – aposto – assim continuará, até porque a linha que separa a verdade da mentira há muito se eclipsou da sua confusa memória.
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