sábado, outubro 09, 2010

O espelho da segurança

Correio da Manhã

O Director Nacional da PSP deu instruções aos comandantes distritais para porem em prática rigorosas medidas de contenção de custos. 

A atitude insere-se no esforço global de poupança solicitado a todos os organismos do Estado, o que é louvável.
O que se torna preocupante é o facto de algumas das recomendações conhecidas não trazerem tranquilidade aos cidadãos. São públicas as inúmeras debilidades da PSP em matéria de recursos (financeiros, materiais e humanos), sendo do conhecimento geral as tensões resultantes de baixas remunerações e meios de prevenção e combate ao crime insuficientes.
A crescente criminalidade dos últimos tempos tem avolumado um sério sentimento de insegurança na sociedade, e a austeridade que agora se abate, implacável, sobre o País não deixa antever nada de bom. Será aconselhável que os cuidados com poupanças na PSP, nesta altura já com o orçamento praticamente esgotado, não sirvam para retirar mais polícias das ruas. Assaltos, violações, homicídios, raptos e agressões justificam páginas e páginas de jornais todos os dias.
Por muito que o ministro da Administração Interna, tão desfasado da realidade como o seu chefe (que só intermitentemente e forçado pelas circunstâncias põe os pés no chão), apregoe que tudo vai bem, a verdade é que o clima de apreensão já existente tem tendência a crescer, perante tanta falência, desemprego e pobreza. Tudo o que seja reduzir capacidade operacional à PSP tem repercussão directa no bem-estar das pessoas.
Apesar da brutal carga de impostos que sofrem e dos sacrifícios que lhes exigem, aos cidadãos pouco se lhes dá. Nem o direito à integridade física lhes é garantido. Será bom que fique claro que a culpa da situação pode atribuir-se a muita gente, mas aos agentes da PSP não. Na hora de pedir contas, o local certo é o Poder político que, ano após ano, de reestruturação em reestruturação, poupança em poupança, foi reduzindo a real capacidade da PSP e dos homens e mulheres que a compõem, além de abalar um elemento essencial para o sucesso da sua actividade: a motivação.
O combate ao desperdício assume-se como objectivo prioritário. Não pode é ser executado cegamente. É de louvar, esta semana, o excelente trabalho de Luís Marques Mendes, antigo líder do PSD, que, na sua crónica semanal na TVI 24, identificou 46 organismos do Estado susceptíveis de imediata extinção, entre eles, a fundação do Magalhães. No momento em que se procuram soluções para o défice, surge como um bom exemplo.
Muito dinheiro se pouparia se o Governo desse passos corajosos, em vez de agir como os salteadores que atacam à queima-roupa os bolsos dos contribuintes obrigando-os a pagar mais impostos. Não é a solução mais fácil, mas trata-se seguramente da mais justa.

SOLTAS

ELE AÍ ESTÁ
Manuel Maria Carrilho renasceu esta semana. Em entrevista a Mário Crespo, na SIC Notícias, com ar frio e desapaixonado, deu a sua visão da situação portuguesa, fazendo questão de vincar a sua independência e o seu distanciamento, em relação a muitas práticas políticas actuais. Temos candidato ?
ESPERTEZA A ALTA VELOCIDADE
O Governo conseguiu que o Tribunal de Contas não chumbasse o contrato de adjudicação do troço do TGV entre Poceirão e Caia. Não porque tudo estivesse bem, mas porque, havendo a fundada suspeita de chumbo certo, pediu ao TC para retirar o contrato. É o que se chama antecipação a alta velocidade... 
ATÉ QUE ENFIM, O NOBEL
Mário Vargas Llosa, finalmente, ganhou o Nobel da Literatura. Já se duvidava que, algum dia, conseguisse o reconhecimento da Academia Sueca, tantas foram as vezes em que figurou na restrita lista de candidatos. Mesmo os que não o consideram um génio, mas apenas um escritor competente, batem palmas.
NOTAS (Escala de 0 a 20)
16 - LEONOR BELEZA
Escolhida por Champalimaud, conseguiu pôr de pé um projecto importantíssimo para a investigação e a medicina em Portugal. O centro é um oásis neste tempo de crise. 
14 - CARVALHO DA SILVA
Conseguiu a adesão da UGT à greve geral. Pela segunda vez, em mais de 20 anos, as duas centrais aliam-se nas ruas, em protesto. O resultado será mais do que mero ruído. 
9 - CARLOS COSTA
Propor nova agência para vigiar as contas públicas não passa pela cabeça de ninguém. Ou está a assumir que o Banco de Portugal não é capaz, ou que não é independente... 
7 - ALMEIDA SANTOS
Afirmar que "o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre" é de antologia. Habituou-nos a tiradas mais sérias e inteligentes do que este insulto.

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