segunda-feira, janeiro 03, 2011

62 milhões desviados com assinatura falsa

CM


Rio de Janeiro

Rosalina Ribeiro descobriu esquema e confrontou responsável antes de ser executada a tiro

A polícia brasileira, que investiga o homicídio de Rosalina Ribeiro na noite de 7 de Dezembro de 2009, em Maricá, perto do Rio de Janeiro, está na posse de cópias de documentos a provar que alguém falsificou a sua assinatura para levantar dinheiro de contas no estrangeiro do milionário Tomé Feteira, com quem a vítima tinha uma relação. Em causa estão cerca de 62 milhões de euros. Fonte ligada à investigação diz que Rosalina terá descoberto que alguém estava a desviar o dinheiro e investigou por sua conta, chegando ao responsável. A polícia acredita que, na noite em que foi assassinada a tiro, Rosalina confrontou ou ia confrontar quem a mandou matar com as falsificações.
A mesma fonte adianta que os investigadores seguiram as pistas deixadas por Rosalina numa agenda onde anotou todas as transferências de dinheiro, tendo solicitado os referidos documentos a várias instituições bancárias no estrangeiro, nomeadamente nos Estados Unidos. De referir que a pasta com que a amante de Lúcio Tomé Feteira saiu de casa na noite em que foi assassinada a tiro, e que se vê no vídeo do elevador, nunca foi encontrada.
Ao que o CM apurou, os herdeiros do empresário, que faleceu no final de 2000, desconhecem ainda o paradeiro desse dinheiro. Até Outubro, sabiam apenas que tinham desaparecido mais de 90 milhões de euros das contas de Feteira e tinham encontrado o rasto de 28 milhões de euros, dos quais 24 milhões Rosalina teria transferido para as contas de Duarte Lima, o advogado que a representava na disputa pela herança. Lima está sob investigação porque na noite do crime estava com Rosalina no Rio e as suas explicações não convencem (ver caixa).
O primeiro rasto destas transferências para Duarte Lima – sete milhões de euros – está no processo que decorreu no DIAP de Lisboa, por autoria de Olímpia Feteira de Menezes, a filha do milionário, e que foi arquivado devido à morte de Rosalina. Num extracto enviado por um banco na Suíça surgem várias transferências da secretária para Lima. Os restantes 17 milhões que Duarte Lima terá recebido nas suas contas constam de extractos de bancos dos Estados Unidos e de Inglaterra, cujas respostas às cartas rogatórias não chegaram por causa do arquivamento do processo.
Há ainda quatro milhões dos quais não há rasto, só suspeitas de que foram transferidos para contas offshore. Neste momento, a investigação ao homicídio de Rosalina prossegue com o envio de uma nova carta rogatória com perguntas para Duarte Lima, que continua a ser considerado testemunha-chave no processo – foi ele a última pessoa identificada a ver Rosalina Ribeiro com vida.
A carta já devia ter chegado ao DIAP de Lisboa, mas novos factos obrigaram a acrescentar perguntas, que deverão chegar este mês.
FUNCIONÁRIOS DE BANCOS SOB SUSPEITA
Há suspeitas de que houve funcionários de bancos coniventes com os desvios de dinheiro efectuados por Rosalina, uma vez que autorizaram as transferências numa altura em que as contas em Portugal, com dinheiro da herança Feteira, estavam congeladas –na sequência de processos interpostos por outros herdeiros. Entretanto, também Rosalina terá acabado por ser vítima de desvios de dinheiro: as anotações nas agendas que deixou no seu apartamento no Rio permitiram chegar à conclusão de que foram desviados mais de 90 milhões de euros das contas do milionário. Inicialmente as suspeitas recaíram sobre Rosalina, mas neste momento a investigação dá como provado que a amante de Tomé Feteira ‘só’ terá desviado 28 milhões
e que os restantes 62 milhões terão sido retirados com falsificações da sua assinatura. Por exemplo, foi encontrado o registo de uma conta no Banco de Boston no Brasil com saldo de 587 405,71 euros.
NOVAS PERGUNTAS PARA LIMA
O atraso no envio para Portugal da segunda carta rogatória com perguntas a Duarte Lima, sobre as suas ligações a Rosalina Ribeiro e os pormenores da sua estadia no Brasil quando a cliente foi assassinada, em Maricá, a 60 quilómetros do Rio de Janeiro, em Dezembro de 2009, prende-se com novas informações que chegaram à investigação – levando a polícia a incluir questões e a reformular outras. Além de novas informação sobre questões financeiras – que a polícia sabe terem sido o móbil do crime –, os investigadores procuram desmontar as contradições em que acreditam ter apanhado Duarte Lima: nomeadamente sobre o transporte usado pelo advogado entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. Quando foi chamado à PJ, para responder às questões da primeira carta rogatória, Lima remeteu-se ao silêncio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário