Ao longo dos últimos anos tenho tido a oportunidade de falar com inúmeros responsáveis das Forças e Serviços de Segurança (FSS) que me têm manifestado um misto de preocupação, perplexidade e resignação.
Falam com preocupação. Sentem que têm passado muitos anos e que as FSS continuam - infelizmente - sem um modelo clarificado para a sua actuação no terreno; os recentes exemplos da disputa de competências para a segurança do Aeroporto de Beja pela GNR, da compra de blindados para a PSP, e das greves e reivindicações dos profissionais da PJ são resultado disso mesmo. Em privado, muitos destes profissionais chegam a considerar as situações caricaturais: são para eles um exemplo de como se desperdiçam meios e o potencial de pessoas válidas, competentes e empenhadas. Aliás, é sempre importante recordar que existem pessoas bem-intencionadas e intelectualmente honestas no universo das três grandes polícias (GNR, PSP e PJ), um universo com mais de 55 mil profissionais.
Mas estes responsáveis na estrutura e no terreno também me têm manifestado uma grande perplexidade. Entendo-a como natural. Depois de mais de seis anos sem reformas de fundo, com uma gestão pensada muito para o quotidiano e para se aparecer nos meios de comunicação social, existe uma revolta latente. Esta é uma revolta que, num primeiro momento, se manifesta desta forma: com um sentimento de perplexidade. Ora os profissionais das FSS são pessoas que - muito legitimamente - terão expectativas e esperarão ver, sobretudo naqueles que lideram e que se dizem "pensadores" nestas matérias, algum sentido de responsabilidade e de honestidade intelectual. Mas também - sejamos honestos - como se pode pedir este tipo de actuação a pessoas que, em muitos casos, pouco ou nada entendem de segurança e que manifestaram, ao longo dos últimos anos, muito pouca vontade para alterar este estado de coisas? É que - na verdade - a segurança interna tem vindo a transformar-se num espaço para oportunismos. Para pouca seriedade. Donde o sentimento de revolta: largas dezenas de profissionais com quem tenho falado estão cansados; desmotivados; ridicularizam este tipo de gente.
Por fim, o sentimento de revolta latente tem dado lugar à resignação. É o diagnóstico do actual estado de coisas. Os profissionais, não vendo melhorias e assistindo à perpetuação de um statu quo que os conduz a lugar nenhum, desmotivam; passam a trabalhar com o mesmo profissionalismo mas aumentam as depressões, os estados de ansiedade, a ideia de que é melhor não ser proactivo mas apenas reagir. Quando tem mesmo de ser. Por isso mesmo a nossa segurança interna, como acontece noutras áreas da governação, está doente. E se aqueles que têm, ou já tiveram, responsabilidades nestas áreas imaginassem o sentimento de desprezo a que são votados em privado, se imaginassem o quão depressa serão esquecidos e substituídos, talvez procurassem agir de um outro modo. Entendendo que - tal como nas grandes empresas onde existe qualidade no trabalho, motivação e seriedade - também nas FSS é hoje possível fazer diferente. Diferente e melhor como, só para dar um exemplo, acaba de acontecer em Inglaterra, onde o Home Office acaba de criar um Centro de Investigação Aplicada para a Ciência e a Tecnologia, com competências de excelência nas áreas da prevenção da criminalidade, da vigilância, e da detecção de contrabando. E nós por cá...?
Falam com preocupação. Sentem que têm passado muitos anos e que as FSS continuam - infelizmente - sem um modelo clarificado para a sua actuação no terreno; os recentes exemplos da disputa de competências para a segurança do Aeroporto de Beja pela GNR, da compra de blindados para a PSP, e das greves e reivindicações dos profissionais da PJ são resultado disso mesmo. Em privado, muitos destes profissionais chegam a considerar as situações caricaturais: são para eles um exemplo de como se desperdiçam meios e o potencial de pessoas válidas, competentes e empenhadas. Aliás, é sempre importante recordar que existem pessoas bem-intencionadas e intelectualmente honestas no universo das três grandes polícias (GNR, PSP e PJ), um universo com mais de 55 mil profissionais.
Mas estes responsáveis na estrutura e no terreno também me têm manifestado uma grande perplexidade. Entendo-a como natural. Depois de mais de seis anos sem reformas de fundo, com uma gestão pensada muito para o quotidiano e para se aparecer nos meios de comunicação social, existe uma revolta latente. Esta é uma revolta que, num primeiro momento, se manifesta desta forma: com um sentimento de perplexidade. Ora os profissionais das FSS são pessoas que - muito legitimamente - terão expectativas e esperarão ver, sobretudo naqueles que lideram e que se dizem "pensadores" nestas matérias, algum sentido de responsabilidade e de honestidade intelectual. Mas também - sejamos honestos - como se pode pedir este tipo de actuação a pessoas que, em muitos casos, pouco ou nada entendem de segurança e que manifestaram, ao longo dos últimos anos, muito pouca vontade para alterar este estado de coisas? É que - na verdade - a segurança interna tem vindo a transformar-se num espaço para oportunismos. Para pouca seriedade. Donde o sentimento de revolta: largas dezenas de profissionais com quem tenho falado estão cansados; desmotivados; ridicularizam este tipo de gente.
Por fim, o sentimento de revolta latente tem dado lugar à resignação. É o diagnóstico do actual estado de coisas. Os profissionais, não vendo melhorias e assistindo à perpetuação de um statu quo que os conduz a lugar nenhum, desmotivam; passam a trabalhar com o mesmo profissionalismo mas aumentam as depressões, os estados de ansiedade, a ideia de que é melhor não ser proactivo mas apenas reagir. Quando tem mesmo de ser. Por isso mesmo a nossa segurança interna, como acontece noutras áreas da governação, está doente. E se aqueles que têm, ou já tiveram, responsabilidades nestas áreas imaginassem o sentimento de desprezo a que são votados em privado, se imaginassem o quão depressa serão esquecidos e substituídos, talvez procurassem agir de um outro modo. Entendendo que - tal como nas grandes empresas onde existe qualidade no trabalho, motivação e seriedade - também nas FSS é hoje possível fazer diferente. Diferente e melhor como, só para dar um exemplo, acaba de acontecer em Inglaterra, onde o Home Office acaba de criar um Centro de Investigação Aplicada para a Ciência e a Tecnologia, com competências de excelência nas áreas da prevenção da criminalidade, da vigilância, e da detecção de contrabando. E nós por cá...?
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